Alunos conheceram Camões - o Poeta Rap

Conhecer Os Lusíadas e os sonetos de Camões como se Camões fosse um poeta rap dos nossos tempos. Foi o desafio lançado aos alunos da Escola Básica 2.3, Escola Secundária e Escola Profissional Beira Aguieira, que assistiram no passado dia 20, no Centro de Animação Cultural, ao espectáculo “Camões é um Poeta Rap”, apresentado pela Companhia de Teatro “Arte Pública”. A iniciativa foi da Biblioteca Municipal de Mortágua, inserida no programa de itinerâncias da Direcção Geral do Livro e das Bibliotecas.

O espectáculo tem dois momentos. Num primeiro momento introdutório, a actriz Gisela Cañamero, a única protagonista em palco, dá a conhecer Camões, as suas aventuras e desventuras pelo Mundo, numa vida marcada por glórias e tragédias. Num segundo momento as estrofes dos Lusíadas e dos sonetos são “vestidos” de ritmos rap e ganham um sentido de modernidade, como se Camões ressuscitasse e voltasse aos tempos actuais travestido de músico rap. É aliás com uma indumentária característica dos rappers que a actriz se apresenta em palco.

Sonetos como “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, “Alma minha gentil que te partiste”, “Amor é fogo que arde sem se ver”, adquirem uma roupagem moderna, mantendo a fidelidade aos textos, às palavras originais. Ao mesmo tempo são projectadas imagens de caravelas, do mar. Pelo meio das famosas estrofes I e II dos Lusíadas intromete-se um refrão do rapper português General D.

Os jovens foram surpreendidos com esta abordagem moderna de Camões, ao som de um estilo musical que eles bem conhecem, e a reacção foi muito positiva, com os alunos a cantarem as estrofes do Canto 1 d'Os Lusíadas e alguns dos sonetos mais conhecidos da lírica camoniana.

“O que temos aqui é Camões dito de outra forma, menos clássica e dramática, tomando a sua escrita sem a adulterar”, conta a actriz. Acaba por ser uma estratégia para tornar Camões um poeta dos nossos dias, mais entendível, sabendo nós que os jovens se identificam facilmente com as letras das músicas rap. “É baixar Camões daquele pedestal e trazê-lo de carne e osso para os dias de hoje”, diz.
Acrescentando ainda: “Camões foi também um jovem da idade deles, que sofreu as vicissitudes que um jovem sofre, o amor incompreendido, a falta de amizade, as traições dos amigos, o não saber para onde é que caminha, e tudo isso está patente de uma forma absolutamente genial na poesia de Camões”. Há uma mensagem subliminar no espectáculo, que tenta incutir nos jovens o exemplo de vida de Camões, que sofreu na carne e na alma tantas agruras, tanto sofrimento, mas que nunca desistiu de lutar e sonhar. “Mostrar aos jovens de hoje que é preciso perseguir o sonho, não desistir, não cair no comodismo e na resignação, e acreditar em si próprio, como fez Camões. Era essa semente que eu gostava que ficasse nestes jovens”.

Surpreendente, interessante, inovadora, e muito eficaz, esta tentativa moderna de dar a conhecer Camões aos jovens, tornando-o num homem dos nossos dias, um poeta rap. Porque... se Camões vivesse hoje, seria um poeta rap.

Fonte: 2009-10-21 - Câmara Municipal de Mortágua - https://www.cm-mortagua.pt/modules.php?name=News&file=article&sid=601