Sr. Armando... 101 anos a Ser!...

 O Sr. Armando… 101 anos a Ser!...



Durante anos, assistimos à presença vertical, de indagador olhar alerta e sorridente, que com regularidade cruzava a entrada das escolas, distribuindo palavras de afetos e carícias, exímias na arte de aconchegar corações, fazer brotar sorrisos cúmplices e despertar a vontade de querer saber por via de efabulações mais ou menos históricas que com entusiástica destreza verbal prendia os ouvintes. Fossem eles miúdos ou graúdos.

Não esquecia ninguém. Miúdos ou graúdos, conhecidos ou nem por isso, a todos mimava, oferecendo uma sábia e afetuosa palavra.

Com um encanto quase infantil caminhava seguro como se aquele fosse o chão do saber que sempre lhe pertencera, na avidez perene do indagar constante. De olhar atento e vivo buscava o interlocutor: o Senhor Diretor, um professor, um assistente operacional, um aluno, um amigo. Na manga sempre a oferta prometida: o “Defesa da Beira” onde palpitava quente a notícia ou reportagem sobre uma atividade escolar, a fotocópia necessária ao trabalho de um qualquer aluno, o prémio sobre Tomás da Fonseca que, com a biblioteca da escola secundária dinamizara, e que ele próprio financiara, um…

E de que terna vaidade o vestia o eco de um “Olá Sr. Armando!” verbalizado por um petiz mais entusiasta… “O Sr. Armando esteve na festa da minha terra! E sabe a história dela!...” Ah!... E acaso haveria nas redondezas terra, lugar ou lugarejo que ele não conhecesse e sobre o qual não tivesse sempre uma história a contar?!...

Vários foram os alunos e ex-alunos que o nosso Amigo ajudou, na realização de trabalhos por via dos documentos que a sua vetusta biblioteca albergava. E não só eles. Com orgulho, e verdade, dizia ter facultado uns quantos documentos e saberes ao Prof. Doutor Romero Magalhães aquando da pesquisa que este fizera para a obra Os Combates do Cidadão Manuel Ferreira Martins e Abreu, ilustre republicano mortaguense.

Assim era o DOUTO AMIGO das nossas escolas que via nas suas bibliotecas o berço cálido do conhecimento, o leito onde o saber se revigora, tece e enaltece.

O Sr. Armando? Um amigo do saber, do saber contar, da partilha. Um tecedor de histórias e memórias, das raízes da terra e das suas gentes, um estar presente lá onde era preciso estar. Connosco? Sempre pronto a participar num evento e a levá-lo para a comunidade através do “seu” jornal. A dar a voz que então se quedava (não fora ele) intraescola. Um caminho ao encontro do hoje feito ponte entre o passado e o futuro. Luz. Muita luz! Uma dádiva sempre feita presente. Um texto dito ou escrito, não importava. O embrulho? mero pormenor. Importante mesmo era o conteúdo, a essência. 

Era todo um poema em construção, tessitura urdida com elos de saber, crer e ser e com poalhas de alegria, num presente feito caminho do futuro a haver.

Mas a 18 de novembro, quando lentamente dolentes caíam as douradas folhas outonais, desceu abrupto e fero o pano do palco dorido e no instante último uma luz brilhante acenou gaiata. Até sempre, AMIGO!